quarta-feira, 14 de março de 2007

Essa talvez vá pra você

E então continuamente ele a observa pelo espelho, olhos miúdos, boca fina. Ficava a imaginar o que ela teria feito na noite passada, o que fazia agora, ou o que pensava sobre a lei Maria da Penha. Se perdia diante de seu olhar mediano de quem busca estrela em copo vazio, de quem tem algo preso no fundo da alma e não quer soltar. Em uma pequena fração de segundo percebeu todo o mundo que poderia descobrir dentro daquela face, todo um universo afável ali, bem ao alcance pra que ele pudesse tocar.
Desistiu... Pensou em distrair-se novamente com o jogo de luz, ou com a bebida que lhe dava asas nos pés e uma vertigem enebriante. Em vão... Ela lá, ele cá, como se nada tirasse da mente o descobrir do novo mundo. Pegou o copo da força de um vencedor, olhou pra o fundo dele e pensou: "Talvez amanhã, quem sabe, eu consiga encontrar uma estrela aqui", se indagou sobre aquele cheiro que o deixava tonto, olhou para os lados novamente e não a encontrou mais.
Aquela noite foi para casa de ônibus, via os carros passarem perplexo, via seis dedos em sua mão e achava pouco demais. Olhou novamente pela janela e então pode ver o seu rosto refletido nela, e novamente se questionou sobre a facilidade com que se apaixonava por essas criaturas estranhas que por acaso cruzavam o andar lento de sua vida. Se pôs a observar a garota no fundo do ônibus, continuamente... Pra quem sabe encontrar um novo mundo. Pra quem sabe, em dias assim, perceber que o rumo não está em outros passos, olhares ou vidas. O rumo estava escondido em algum lugar bem escuro, bem pequeno, que admiravelmente estava dentro dele.

Nenhum comentário: