terça-feira, 11 de agosto de 2009

“Deserto de Almas”

Choveu muito lá fora. Noite longa, vento forte. E o Abismo...

Quanto mais pessoas, mais só torna-se a existência de nossas vidas. Mais só são as margaridas no jardim lá fora, e mais inexplicáveis tornam-se os sonhos em meio a madrugada.

Ninguém se conhece, se entende. E se conhece despreza, se entende esquece. É difícil colocar-se no outro, e o nosso egoísmo vem nos tornando cada vez mais solitários em um mundo em que não vale a pena entender.

A estranheza vive nos corações. E por mais que socializemos, que sorrimos de piadas por cordialidade, que bebamos dois dedos de vodka com maracujá ao som de jazz e ao cheiro de cigarro, nunca somos o que somos e fazemos o que de fato queremos. Ou por medo, ou por mediocridade, ou pela máscara que já está tão grudada que não sabemos onde começa ou termina.

Dia seguinte só nos resta à ressaca, as palavras que já esquecemos, o som e as cores que guardamos na memória virtual do nosso cérebro. Algumas irão embora, algumas são pra vida toda.

“Era sexta, estávamos na Lapa, sentados na sarjeta filosofando sobre como não queríamos nossa futura filha ali, sendo desviada do caminho com um copo de caipirinha na mão, eu era uma ovelha negra e ela nunca saberia disso, seria o nosso segredo. Aquela foi a primeira vez que vimos nossa banda favorita juntos. Nesse dia o destino elegeu Último Romance como nossa música, e a escolha foi selada com aquele beijo enquanto Amarante a cantava pra nós. Nunca me esquecerei dos seus pequenos olhos, do boné, e do seu jeito de se declarar sem dizer, aqueles olhos ficarão guardados aqui pra sempre, e nunca irão embora. Na manhã seguinte passarinhos cantavam na minha janela, finalmente havia descoberto que minha existência não estava fadada a solidão.”

E hoje, ao pensar em tudo fica uma coisa estranha no peito. Vejo a multidão pequena demais diante da solidão na qual está fadada. O mundo agora é o deserto que cultivaram pra que as pessoas não possam se encontrar.

Olho pra tudo que tenho e fica o medo. Ficam as imperfeições. Ficam os perdões. As promessas. Ficou você. E até hoje fico me perguntando, me questionando, me interrogando. Somos almas gêmeas? E veio ele me dizer:

"Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra — talvez por isso, quem sabe?" Caio F. Abreu

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Brasil: “Dos filhos deste solo és mãe gentil”?

Nunca fui patriota, e não foi descaso, acho apenas que meu país não merece. Não dá pra se confiar num país onde a picaretagem é bonita. E velho amigo de olhos arregalados, limpe seus óculos, e olhe bem ao seu redor.

Não digo que no resto do mundo é Neverland, o ser-humano é o ser mais indigno que existe e não se pode esperar muito dele. Espero mais de urubus do que de seres-humanos. Mas o brasileiro consegue ultrapassar a barreira da dignidade tão rapidamente que assusta, bastam uns trocados e uma boa conversa para o jeitinho brasileiro entrar em ação.

Ao meu redor todos culpam o meio. Fulano rouba e a culpa é do rico, que o estraçalha, que não o dá oportunidade e que o prende nessa sociedade capitalista.

Prezados senhores, eu nasci pobre, fui pobre uma grande parte da minha vida, minha mãe nunca concluiu o chamado ensino fundamental, no entanto, enquanto esses pequenos delinqüentes desprotegidos estavam remexendo as cadeiras em um baile funk, a minha estava pregada em uma poltrona, às 11 da noite, enquanto minha cabeça tentava equacionar todas as informações que recebia regada com café pra não entrar em pane e dormir. Eu fui muito mais pobre do que sou hoje e não tenho vergonha disso, no entanto, não tenho orgulho da minha pobreza. Eu busco o sucesso e só. E se as pessoas não são capazes o suficiente pra buscar o seu sucesso não é um problema meu. Como diria o poeta “coitado é filho de rato que nasce pelado”.

E os coitados do Brasil, caros senhores, reclamam muito dos seus governantes, é escândalo atrás de escândalo, é tanto dinheiro pro senhor senador e nada pra os brasileiros lutadores do nosso país. Eles que vêem o nosso país afundar em sua TV a cabo GATO, que se enrolam com os impostos e roubam energia elétrica do vizinho, que acham celular na rua e a necessidade os obrigam a jogar correndo o chip fora e ir vendê-lo, Deus, proteja a alma desse povo que sofre desmerecidamente! E dê-lhes belas vendas de camurça pra agüentar o sofrimento!

Caros amigos, sinto dizer-lhes, mas aqueles caras lá no Congresso são a foto-imagem do Brasil. Então, novamente limpem seus óculos, e comecem onde ainda tem jeito: vocês.

Como sei que nesse exato momento o brasileiro está pensando que eu sou uma insensível, que não gosto dos pobres e que sou uma americanizada de merda, eu jogo a toalha.

Mas ainda resta vida longe daqui... Um dia ainda roubo um iate, fujo pra Itália e vou viver em uma pequena vila de uvas. Até lá, meu amigo, fico aqui, assim, vendo a terra que me criou ser estraçalhada pela mediocridade e estupidez do povo que a ocupou.

É isso ai Brasil, vamos que vamos, de que importa a honestidade quando estamos rumo ao hexa?