quarta-feira, 27 de junho de 2007

Um passeio pela cidade maravilhosa.

Se você anda no Centro do Rio de Janeiro pode ver TUDO. Ele, literalmente, ferve. É vivo, é quase gente.É brasileiro daqui, dali, de lá e de cá. É coração do universo, é vida a pulsar. Tantos rostos... Pequenos rostos que desenham a imensidão limitada pela Avenida Rio Branco. Chinelo, bermuda rasgada, panfleteiros, calça jeans da moda, escarpin e terno Armani. Vê-se de tudo um pouco e do pouco tudo. O sol não ajuda, e ninguém ajuda, se você está no Rio de Janeiro é você por você "meu irrrmão". Oito da manhã ele nasce, dez da noite ele dorme e na madrugada ele quase morre. É o dia a dia de um bicho cansado, sujo mas vivo, ele é coração que bate fervorosamente cada veia e pedaço dessa cidade cheia de "encantos mil".
Quando chego em Botafogo, terra abençoada pelo Cristo, lá em cima de braços abertos a nos velar, sinto que o Rio de Janeiro dorme. Sono tranqüilo, paz de navegador que contempla o horizonte. Lembro do entardecer na Urca, dos passeios que fico a observar pelas calçadas os trilhos bem delineados e limpos, das madames e seus poodles dançando com graça e claro não poderia nunca me esquecer delas, as "garotas de Ipanema" que se estenderam para o Leblon e Barra da Tijuca.
Fevereiro é carnaval. E abram alas que o Rio de Janeiro de várias faces quer passar.É banda na rua, banda na TV, banda de frevo, banda de rock na lapa pra quem quer fugir. É Brilho, glamour é paetê. Mas todo carnaval tem seu fim, e após ele em uma tarde de pico de um dia qualquer você conhece a Mangueira realmente. Glória ao pai! Muita gente no trânsito, muita gente no hospital. É bala que voa pra lá, pra cá. É bala meu filho, não vê? Corre senão ela pega você! Rio de janeiro está vivo, gritando e cantando, sorrindo e chorando, é sangue que escorre no noticiário da TV.
Rio de Janeiro dos pobres estudantes encarcerados, surrupiados do direito de ser o que lhes foi ensinado, das domésticas más que são espancadas sem saber o porquê, dos pais que tapam os olhos com a venda da hipocrisia com medo de ver. Rio de Janeiro dos peões, pedreiros e lixeiros que acordam cedo e cansam os músculos e a vida pra comer, dominados pelos pobres meninos armados que comandam a boca. Fazer o quê? Eles não tinham como escolher, a sociedade dominada pelos burgueses os obrigam a “matar” a sede de viver.
E agora tem a eleição do Cristo Redentor, é camiseta pra lá, propaganda pra cá. É o senhor presidente louvando a grande beleza da cidade, orgulho desse nosso país de Deus. Companheiros, votemos no Cristo, sejamos patriotas!Tapem os olhos, porque nossa cidade, definitivamente, é maravilhosa!

sexta-feira, 22 de junho de 2007

História (de amor) sem fim.

Ela

Dois copos de vodka com maracujá. Tédio... Raiva. Era raiva? Não era raiva, não era tristeza. Era só algo que invadia os pensamentos devastando tudo como um tornado. Era um nó engasgado e envolto a uma pergunta sem resposta, a uma perda tão inexistente como as cicatrizes em seu coração. Um vazio cheio de singularidade que tomava posse de suas noites, e fazia de seus pequenos gestos verdadeiros objeto de rara demonstração. Ela não vivia pra si, vivia para os outros.

Ele

Só... Tão cheio e tão grão de areia no universo que não podia entender. Não entendia, não perguntava. Era incógnita dos próprios pensamentos que guardavam a esperança de um menino. Prendia-se na dor dos que foram embora cedo demais, arranhava as paredes e o macio doce da lâmina em sua carne fazia-o esboçar um sorriso. Observava o sangue escorrer por entre seus dedos , pelas suas mãos, e enfim atingir o chão, dando-lhe cores que lembravam o crepúsculo anunciante do final de mais uma noite em vão. E o frio tomava conta de seu corpo tão rápido quanto os gritos de horror presos na madrugada, gritos que ele continha em sua mente juntamente com suas lágrimas.

Início [Aquele dia]

-Fale com ela;
-?
-Fale com ela!
-Com quem?
-Já viu o filme?
[Ela é maluca]
[Ele é burro]

Nós [Algum e muito tempo depois]

-Alô!
-Tudo bem? É a L..
-Porque está me ligando?
-Porque tenho saudade, não posso sentir saudade J. ?
-Pode, (...).
Não era de L. que falava, trocava a sua singularidade personalíssima por outro nome, o seu nome agora estava preso na garganta, sabia que se o trocara pelo de outra algo estava errado.

Recomeço


-Como você ousa me “enviar” um beijo pela C.? Não conhece o significado da palavra nunca mais?
-Sinto saudade.
-Nesses três meses longe de você sofri e senti o amargo da desesperança, tentei esquecer que você disse que nunca me veria como mulher quando perguntei porque tinha escolhido outra. Porque insiste nessa amizade naufragada? Eu preciso te desgrudar dos meus pensamentos...
-As vezes acho que me sentirei um órfão quando você deixar de me amar, e então me apaixonarei por você, e só nesse dia perceberei tudo que perdi.
-Isso é triste.
-Por quê?
-Eu seria como uma criança, de olhos brilhantes pregado na vitrine, que deseja uma bicicleta mais que sua própria vida. E quando enfim a ganhasse seria tarde demais, já havia desistido dela, e nesse momento estaria sonhando com um par de patins.
-Realmente é triste.


Eu te amo

-Porque você some? Sabe que me preocupo com você mais do que com minha própria vida, sabe do amor que guardo em cada entrelinha de meus pensamentos, sabe que uso nossa amizade como escudo que esconde a dor por não te ter ao meu lado. Você viu quantas vezes te liguei. Tenho medo... Já não sei se quero continuar com isso J. , sou apenas uma menina que busca o seu amor e que nunca o terá, algum dia, em algum lugar tenho que me conformar com isso.
-Noite passada pensei muito em você.
-Pensou em mim e não deu sinal de vida? Eu realmente não consigo te entender, não consigo entender qual vai ser o final dessa história.
-L., Eu te amo.
[Incrível como frações de segundos mudam completamente a vida de algumas pessoas.]

Hoje

-Estou tão angustiada, sinto um aperto, uma vontade de chorar. Deixar uma vida de lado e ser tão feliz que as vezes dói custa um preço além do que eu poderia imaginar.
-Me abraça... Não chora minha pequena.
[Ela canta]
-“Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar, em cada ausência tua eu vou te amar(...)”
Lágrimas, sorrisos, olhos de enleio e de ternura em meio a mãos que afagam e mostram o que é dizer do amor com dedos que contornam a face. Olhos novamente.
-Eu te amo, minha pequena.

Ela

Observa ele enquanto dorme, o seu menino, o fruto de um amor que fica preso em cada instante de sua vida, a estrada que escolheu percorrer dentro de seus lábios, de seus braços de seu sorriso. É o alivio das tardes que sufocam o domingo. É passeio na Urca sob a luz do pôr-do-sol. É música inédita de sua alma que era muda. Ela vela o sono de um anjo. Ele agora é palavra final de história sem fim.

Ele

Tem a vida que nunca escolheu pra si, mas que vive pois está ao lado dela. Descobre, diante do esforço de cada dia que faz para estarem juntos, que nunca sabemos do que somos capaz até amar alguém de verdade. Ele agora é o menino preso em cada grito que se libertou da escuridão. Ele dorme. Ela agora é ponto final de história sem fim.

sábado, 16 de junho de 2007

Dia que nasce, vida que morre.

Acordou. Onze e trinta da manhã e os olhos doíam, o peito guardava a esperança da madrugada e o fígado sentia o exagero da noite que foi deixada juntamente com seu isqueiro naquela mesa de bar. Tomava o café amargo e quase frio enquanto tragava o primeiro cigarro, aquele que percorria as vias respiratórias ainda limpas, que enchia os pulmões de um veneno delicadamente doce e preenchia o vazio do alma inabitável, incoerente e evasiva que carregava.
O vento.... Soprava e tocava a face com desdém, embalava as flores pintadas pelo mesmo vermelho vivo de suas unhas e pousava as folhas secas do seu pensamento. A fumaça que perambulava em seu quarto nesse instante fez com que ela, menina resguardada pelo silêncio de seus gestos, lembrasse da névoa que havia coberto os seus passos no caminho de volta.
Nos lábios ficaram as palavras vazias, o gosto de um estranho e o amargo que se misturava com a saudade de tudo que não foi.
Os sapatos, jogados no canto esquerdo do quarto, estavam sujos... E ela em um gesto de refúgio tentava lembrar por onde tinha andado nos últimos meses que carregou sobre as costas o peso de viver.
Apenas viver, sem saber o que.
Onze e quarenta e cinco, precisaria correr pra não perder o programa na TV. Por instantes observou com ternura os pássaros cantando e dançando com o ar. E assim em um gesto incessante soltava a fumaça de seu peito e o peso de seu coração. Esquecendo de lembrar que o tempo inevitavelmente passava enquanto as pessoas estavam sendo.
E ela fingia, e o seu íntimo gritava , sua voz calava e sua vida, diante do abismo de ser ela, secava.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Já que não sei dizer, que digam por mim.

Tentaria não ser clichê se pudesse. Sei o quão dentro do comum soa esse texto neste dia, sei também quantas pessoas que nunca sequer experimentaram a metafísica do amor irão postá-lo hoje. Irão recitar essas palavras que assim como passáros ficarão livres no ar, mas nunca presas na janela da alma e do coração.
Hoje vivemos essa época de "estranhesa". Somos estranhos perante a parte de dentro de grande parte das pessoas de nosso círculo social. Somos a máscara delineada pelo medo do amor mediaval, aquele com príncipes, cavalos e uma rosa acompanhada por uma carta, somos a casca que enfim adquiriu o "relacionamento liberal" da modernidade. Mas eu, cá entre nós, ainda fico com Cazuza: "Você me pede pra ser mais moderno que culpa que eu tenho é só você que eu quero - Medieval".
E sim, sou clichê e prevísivel o quanto posso... Afinal hoje é Dia dos Namorados, e depois de uma longa estrada acompanhada pela solidão eu posso dizer: Uhum.... Eu tenho namorado.

"Ter Namorado:

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.
Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.
Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido."

(Atribuído a Carlos Drummond de Andrade, mas há controvérsias e quem diga que é de Artur da Távola )

terça-feira, 5 de junho de 2007

A Desilusão



Vislumbro a vida e mais uma vez penso:
Tenho medo, medo da vida desfalecer,
Medo do aroma das flores ao entardecer,
Medo de ser metade minha, e metade nada.
Medo de crer e ser um ser dentro da madrugada,
Submerso no ente desgastado que se transformara o amor.


Vivo entalada na garganta dos que gritam porque não podem chorar,
Dos que choram porque não podem gritar,

Dos que esmurram o concreto que fez-se a dor em seu coração.
Sou fato disperso no horizonte, encontro-me perdida...
Envolvida no sepulcro do que foi a paixão.


Mas um dia, se tu me pedes, despeço-me de ti resignada.
Porque se tu o fazes entendo que de mim não poderás ter mais nada.
Sim, nesse dia falece em tu o medo.
Cresce em teus olhos o verde das árvores.

E torno-me novamente a viajante errante, solitária...
Perdida em meio aos desvarios dos que foram,
dos que sentem uma mentira sussurrada .
Dos que vivem a vida de forma rasa e amargurada.