sexta-feira, 22 de junho de 2007

História (de amor) sem fim.

Ela

Dois copos de vodka com maracujá. Tédio... Raiva. Era raiva? Não era raiva, não era tristeza. Era só algo que invadia os pensamentos devastando tudo como um tornado. Era um nó engasgado e envolto a uma pergunta sem resposta, a uma perda tão inexistente como as cicatrizes em seu coração. Um vazio cheio de singularidade que tomava posse de suas noites, e fazia de seus pequenos gestos verdadeiros objeto de rara demonstração. Ela não vivia pra si, vivia para os outros.

Ele

Só... Tão cheio e tão grão de areia no universo que não podia entender. Não entendia, não perguntava. Era incógnita dos próprios pensamentos que guardavam a esperança de um menino. Prendia-se na dor dos que foram embora cedo demais, arranhava as paredes e o macio doce da lâmina em sua carne fazia-o esboçar um sorriso. Observava o sangue escorrer por entre seus dedos , pelas suas mãos, e enfim atingir o chão, dando-lhe cores que lembravam o crepúsculo anunciante do final de mais uma noite em vão. E o frio tomava conta de seu corpo tão rápido quanto os gritos de horror presos na madrugada, gritos que ele continha em sua mente juntamente com suas lágrimas.

Início [Aquele dia]

-Fale com ela;
-?
-Fale com ela!
-Com quem?
-Já viu o filme?
[Ela é maluca]
[Ele é burro]

Nós [Algum e muito tempo depois]

-Alô!
-Tudo bem? É a L..
-Porque está me ligando?
-Porque tenho saudade, não posso sentir saudade J. ?
-Pode, (...).
Não era de L. que falava, trocava a sua singularidade personalíssima por outro nome, o seu nome agora estava preso na garganta, sabia que se o trocara pelo de outra algo estava errado.

Recomeço


-Como você ousa me “enviar” um beijo pela C.? Não conhece o significado da palavra nunca mais?
-Sinto saudade.
-Nesses três meses longe de você sofri e senti o amargo da desesperança, tentei esquecer que você disse que nunca me veria como mulher quando perguntei porque tinha escolhido outra. Porque insiste nessa amizade naufragada? Eu preciso te desgrudar dos meus pensamentos...
-As vezes acho que me sentirei um órfão quando você deixar de me amar, e então me apaixonarei por você, e só nesse dia perceberei tudo que perdi.
-Isso é triste.
-Por quê?
-Eu seria como uma criança, de olhos brilhantes pregado na vitrine, que deseja uma bicicleta mais que sua própria vida. E quando enfim a ganhasse seria tarde demais, já havia desistido dela, e nesse momento estaria sonhando com um par de patins.
-Realmente é triste.


Eu te amo

-Porque você some? Sabe que me preocupo com você mais do que com minha própria vida, sabe do amor que guardo em cada entrelinha de meus pensamentos, sabe que uso nossa amizade como escudo que esconde a dor por não te ter ao meu lado. Você viu quantas vezes te liguei. Tenho medo... Já não sei se quero continuar com isso J. , sou apenas uma menina que busca o seu amor e que nunca o terá, algum dia, em algum lugar tenho que me conformar com isso.
-Noite passada pensei muito em você.
-Pensou em mim e não deu sinal de vida? Eu realmente não consigo te entender, não consigo entender qual vai ser o final dessa história.
-L., Eu te amo.
[Incrível como frações de segundos mudam completamente a vida de algumas pessoas.]

Hoje

-Estou tão angustiada, sinto um aperto, uma vontade de chorar. Deixar uma vida de lado e ser tão feliz que as vezes dói custa um preço além do que eu poderia imaginar.
-Me abraça... Não chora minha pequena.
[Ela canta]
-“Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar, em cada ausência tua eu vou te amar(...)”
Lágrimas, sorrisos, olhos de enleio e de ternura em meio a mãos que afagam e mostram o que é dizer do amor com dedos que contornam a face. Olhos novamente.
-Eu te amo, minha pequena.

Ela

Observa ele enquanto dorme, o seu menino, o fruto de um amor que fica preso em cada instante de sua vida, a estrada que escolheu percorrer dentro de seus lábios, de seus braços de seu sorriso. É o alivio das tardes que sufocam o domingo. É passeio na Urca sob a luz do pôr-do-sol. É música inédita de sua alma que era muda. Ela vela o sono de um anjo. Ele agora é palavra final de história sem fim.

Ele

Tem a vida que nunca escolheu pra si, mas que vive pois está ao lado dela. Descobre, diante do esforço de cada dia que faz para estarem juntos, que nunca sabemos do que somos capaz até amar alguém de verdade. Ele agora é o menino preso em cada grito que se libertou da escuridão. Ele dorme. Ela agora é ponto final de história sem fim.

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