sábado, 16 de junho de 2007

Dia que nasce, vida que morre.

Acordou. Onze e trinta da manhã e os olhos doíam, o peito guardava a esperança da madrugada e o fígado sentia o exagero da noite que foi deixada juntamente com seu isqueiro naquela mesa de bar. Tomava o café amargo e quase frio enquanto tragava o primeiro cigarro, aquele que percorria as vias respiratórias ainda limpas, que enchia os pulmões de um veneno delicadamente doce e preenchia o vazio do alma inabitável, incoerente e evasiva que carregava.
O vento.... Soprava e tocava a face com desdém, embalava as flores pintadas pelo mesmo vermelho vivo de suas unhas e pousava as folhas secas do seu pensamento. A fumaça que perambulava em seu quarto nesse instante fez com que ela, menina resguardada pelo silêncio de seus gestos, lembrasse da névoa que havia coberto os seus passos no caminho de volta.
Nos lábios ficaram as palavras vazias, o gosto de um estranho e o amargo que se misturava com a saudade de tudo que não foi.
Os sapatos, jogados no canto esquerdo do quarto, estavam sujos... E ela em um gesto de refúgio tentava lembrar por onde tinha andado nos últimos meses que carregou sobre as costas o peso de viver.
Apenas viver, sem saber o que.
Onze e quarenta e cinco, precisaria correr pra não perder o programa na TV. Por instantes observou com ternura os pássaros cantando e dançando com o ar. E assim em um gesto incessante soltava a fumaça de seu peito e o peso de seu coração. Esquecendo de lembrar que o tempo inevitavelmente passava enquanto as pessoas estavam sendo.
E ela fingia, e o seu íntimo gritava , sua voz calava e sua vida, diante do abismo de ser ela, secava.

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