(...) Resquícios do passado dançavam em sua memória naquele instante, dança essa que exalava a monotonia das infinitas noites cobertas por uma escuridão aparentemente irremediável. Sentiu aquele frio na espinha subir suavemente e cobrir seu sangue com um fluído gélido de forma arrebatadora...
Ela, como já era de se esperar, lutava contra todas as sementes deixadas em sua alma num tempo que nada fez sentido. Enquanto observava atentamente o andar rítmico de um estranho na rua, pôs-se a pensar em todos "não ser" e "quase ser" que viveu em tempos longinqüos, tempos que se perderam de tão distantes nos seus pensamentos e que agora, pareciam-lhe um filme visto na sua infância no qual grande parte escapou de sua lembrança.
Diante dela, reavivaram-se os fantasmas, os pesares e o adeus que guardou dentro de um canto do coração junto com um último suspiro de saudade. Naquele instante lamentou-se por não conseguir se desprender do passado, desceu do ônibus e se dispersou perante a multidão matinal que enfrentava antes de chegar ao trabalho. Dentro do coração algo pedia abrigo, dentro da alma um vazio se ressaltou diante da harmônia, dentro da cabeça: "bloquear, excluir e depois , como já era hora, enterrar"...(...)