sábado, 5 de maio de 2007

Sempre amei poesia, devorava Drummond com uma ansiedade única, e vez ou outra, arriscava arranhar alguns versos em minha vida. Há algum tempo, percebi que não possuía mais essa habilidade. Era árduo transmitir algo poeticamente. Rabiscava, "rebiscaba", "birriscava", "trirriscava" versos e nada saia dentro de minha alma muda. Um dia amanheci pra os meus desencontros e vi a resposta que tanto procurava:
Eu não precisava mais de poesia, a realidade agora mostrava-me a poesia limpa e crua: o meu amor. E amor é sim aquele bichinho inexplicável, e como diria Drummond , é instruído, é vida que corre nas veias. Fica os versos que colhi em meio a "bagunça do meu coração":

Amanhecer da alma

Fixo o dia em minhas veias,
Enfim, o horizonte demonstra-me seus olhos apreensivos.
Guardo em um suspiro o cheiro doce de sua respiração,
e dentro, o raio de sol rompe o caminho no escuro.
O belo mistura-se à brisa dando formas a vida.
Nascem as flores com o despertar do dia.
E tu, canção de meus olhos, faz-se presente.
Repousas em meus lábios,
abranda-me a alma com o desenhar de teu sorriso .
Carregas contigo os meus desatinos,
e as confissões de quem quer e anseia o inebriar.
Fica os resquícios de minha pele coberta com teu cheiro,
e os sonhos construídos na candura de teu estar.
Dentro, novamente o escuro faz-se presente,
recolho-me ao sono dos que esperam.
Aguardo o chegar do som brilhante que anuncia o céu noturno.
Desperto...
E então vislumbro-me com o amanhecer que acorda.
És tu, alma presente, presente da alma.
O silêncio fixa o encontro,
E a música exalada pelo ruído de seu sorriso,
Proporciona-me vida, dá-me um chão,
E mostra-me finalmente o amanhecer da alma que eu tanto ansiava.

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