terça-feira, 24 de abril de 2007

CA-RAM-BA (13/04/2007)

"Primeiramente, não pense que esse caramba é aquele típico de dançarino de salsa de camisa com estampa brega, eu definitivamente tenho calafrios ao imaginar que algum ser humano pode ter isso gravado em sua mente, e pior ,ouse vez ou outra, utiliza-lo pra ilustrar algum acontecimento que é similar quando apela para o conjunto complexo de suas lembranças.
Eu, preso na minha vidinha de criatura rasa, não aceitaria de forma alguma essa comparação, e como esse texto é meu, eu faço dele e do que você pensa dele o que eu bem entender. Pois bem, fique tranqüilo, caro leitor, não vou usar expressões como labutar ou companheiros, isso é coisa do Lula, e deixemos ele imerso na sua vida de operário com cartão de crédito tão ilimitado quanto suas gafes e tropeços gramaticais. Não que eu seja gramaticalmente correto, mas vejamos, eu tenho a base de um escritor fracassado, não sou marionete de um bando de empresários e nem piada no exterior, só um livro que publiquei no início de minha carreira foi, mas eu já me recuperei disso, pelo menos é o que eu acho.
Bom, como eu odeio política, deixemos o Lula no parquinho, brincando de ser presidente e grande representante da classe trabalhadora, com seu terno, sua bela casa, sua pensão pelos “danos causados pela ditadura”, e imaginemos que a ascensão rápida e “sem-labuta” (juro que foi a última vez!) de seu filho foi por mero merecimento. Sim, eu não me contentei em falar dele, minha mente perversa o imaginou vestido como o tal dançarino brega, e por motivos desconhecidos achei que ele seria reconhecido como sexy pelo movimento GLS nessa posição. Tenho que divagar menos, eu sei, se continuar assim vou ficar esquizofrênico e não deve ter nada pior do que o Lula vestido de dançarino sentado na minha sala de estar.
Voltemos a mim, o centro da atenção nessas meras linhas, o centro de expressões vazias e “nem-lembro-mesmo-do-que-ia-falar”. Eu sou o típico carioca solteirão que já “passou da idade”, de óculos fundo de garrafa e gordo. Fico na fila do mercado horas aguardando as velhinhas contarem suas benditas moedas sem soltar um palavrão sequer, dou lugar as mesmas bem-aventuradas no ônibus, e nem ouso me irritar porque a geladeira quebrou e estou comendo pão com mortadela há duas semanas. Resumindo, sou um cidadão politicamente correto, que cumpre de forma magistral suas obrigações, lê seus e-mails e as publicações de Cony esporadicamente e no resto do tempo se afunda na função que “mais-adora-nessa-vida”, ser um digníssimo jornalista de meia-idade que não publica nada a mais ou menos uns quatro anos.
Um dia, um belo dia ensolarado, descobri que aumentariam em alguns míseros reais minha aposentadoria. Você, caro leitor, deve entender sobre a sensação de ter um orçamento diferenciado de dez reais, qualquer mão-de-vaca entenderia, e todos nós, homens de bem, somos mão-de-vaca até que nosso saldo bancário nos prove o contrário ou façamos a desgraça de desposar alguma bela fêmea. Eu, graças a Deus, não cometi nenhum dos erros acima.
Diante dessa esplendida notícia, cometi a primeira desgraça em minha vida, desgraça essa que colocarei na lista acima nos meus próximos manuscritos. Na ânsia de rapidez, que diga-se de passagem nenhum velho pode ter, assinei um provedor de banda larga, mais conhecido como velox, passei todos os meus dados para uma operadora de telemarketing pelo telefone. Cristo eu pequei! E eu nem vendi minha alma para o demônio, mas pra coisa pior, à TELEMAR. As ligações versus aborrecimentos começaram no dia seguinte. Primeiro porque essas pobres almas robotizadas encafifaram na sua também pobre mente que me venderiam um “provedor não só de acesso a internet, mas de conteúdo, que me daria acesso a mais de 500 páginas de revistas, notícias e variados, por uma quantia irrisória de R$14,90”.
Agora me diga, como é que eu iria conseguir explicar para aquela pobre criatura, que esse valor fugia ao meu orçamento e é claro da fortuna que tinha ganho como aumento. Bom, aquela maravilhosa representante do sexo feminino repetiu tantas vezes essa informação na minha adorada orelha que se déssemos um saco de arroz para cada repetição dela acabaríamos com a fome na Etiópia, e quem sabe, faríamos do Fome Zero uma realidade e não um castelo de areia do parquinho.
E as ligações de vários outros “provedores-de-conteúdos” se estenderam, assim como o prazo de entrega do modem, porque obviamente a filha de uma rapariga (com todo respeito ao restante das senhoras, mães de outras operadoras de telemarketing, tão ofendidas e tão injustiçadas) que me atendeu não deixou registrado a observação que cansei de repetir: “Alarme, Alarme, Interfone quebrado”. Isso!!! Falei como uma sirene, pra ver se assim a nossa ilustre amiga conseguiria guardar a informação. Óbvio que foi em vão.
Lógico, depois de várias semanas nesse vai-não-vai dei um basta. Liguei para o provedor e cancelei minha conta em tom desaforado e arrogante, liguei para o velox, e quase mandei uma foto de minhas belas e esculturais nádegas para o fale conosco da empresa. Em meio a esse turbilhão de sentimentos diabólicos que me tomaram consegui me conter, e num último ato de desatino, tal qual quando quase me casei com uma paraíba de São Gonçalo, soltei um estratosférico CA-RAM-BA na janela. Meus vizinhos até hoje me olham atravessado, mas assim pude continuar a ser o cidadão exemplar que sempre fui. Afinal, evitei um desatino maior, um desatino que povoa meus sonhos desde então, um desatino tal qual como comprar uma metralhadora e fazer uma verdadeira chacina no prédio da Contax, Atento, entre outros da mesma linha. Mas me contento em apenas sonhar, eu estou velho demais pra ser preso por uma boa causa, e minha adorável fortuna que obtive com o aumento na aposentadoria, não daria, nem de longe, pra comprar a metralhadora e a munição dos meus sonhos. "

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