sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Tic-tac-tic-tac-tic-tac

[ Um momento pra fazer disso um diário]

07:30 e eu penso onde foi que deixei meus chinelos, sento na cama e cochilo por uns minutos, o sono quase me desmonta, é como se tivesse anestesiada . E ai tem banho, escova, pão integral e beijo de despedida. Dia desses caiu um meteoro no café da manhã e eu achei que algo novo estava acontecendo, minutos depois acordei.

10:30 e o ambiente fez o doce virar fel. Com as mãos apoiadas sob a cabeça imagino onde e como cheguei ali. Fecho os olhos e estou correndo, descendo as escadas atordoada e quando chego a rua, em meio a Rio Branco grito bem alto um palavrão. Isso mesmo. Eu certinha, boazinha e menininha viro bicho em meio aquele ambiente rodeado de falsidade, de hipocrisia, de injustiça e de neuróticos. Corro dali nos pensamentos pois ainda preciso me manter sã. Tento esquecer as mesquinharias dos que só querem o poder da razão e que sentam no trono de Deus com suas verdades. Eu pobre mortal flexível me calo, e me faço surda. Verdade nenhuma me compra absolutamente. Isso é aprender.

15:30 é a hora do desespero, meus olhos quase se fecham e eu me perco em meio a burocracia dos relatórios e fechos das pastas. Meus passos agora são apenas gesticulados entre o vai-e-vem de uma folha e outra a se encaixar naquele amontoado de papéis sem fim. Estou a sabe-se lá quantos anos atrás pensando como tudo aquela época era bom e eu nem sabia. Sinto falta de sorvete, de Legião na beira do abismo e da chuva na volta de uma sessão de cinema novamente só, das noites que me dediquei a loucos pra entender minha própria loucura e da solidão que cultivei pra entender meu eterno vazio. de Clarice que me decifrava e de Carlos Drummond que eu as vezes não entendia mas me agradava. As coisas se passam e eu faço de conta que estou aqui, mas já estou lá, perdida na escuridão.

20:30 e eu queria correr dali, lá embaixo toca alguma coisa sertaneja misturada com forró, brinco com a lapiseira enquanto o professor discursa sobre alguma “descrepância” gramatical, só ouço a expressão “pura poesia” e a música toca a plenos pulmões lá fora. Nesse momento tento não lembrar do passado de que eu corro. Preciso vê-lo bem longe do meu coração, pra quem sabe enfim esquecer. Rercordo-me dos braços do meu pequeno, dos pequenos meigos olhos que me trazem de volta a razão. Viver é doce, mesmo em meio a essa confusão.

23:30 e novamente meus olhos se fecham compulsoriamente, martelo comigo mesma que envelheci nesses três anos mais do que deveria, que sonhei mais do que deveria e agora estou atordoada em meio a trilhões de coisas que eu não posso ter e quero. E eu corro atrás delas desesperadamente, e me afogo nessa rotina que me massacra e me envelhece. Em meio a essa gente que não “cresce”, que se afunda na mesmice do “eu sou” e na ignorância do “eu sempre sei”. Eu não sei tudo, e nem quero. Não saber é o que torna descobrir tão interessante, e nem que eu vivesse mil anos eu saberia.

03:30 eu sonho profundamente, e no meu sonho o espelho me diz resignado: “Senhorita, acho que já está na hora de jogar no lixo sua gravata, comprar uma guitarra e pedir demissão” Acordo, tomo um gole de água e volto a dormir, pra começar de novo, e de novo...

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